sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Discografia.


Esses dias tenho pensado na minha vida. Na verdade, nos momentos vividos, como uma discografia. Uma discografia sensacional. Uma coleção de discos variados, com uma mistura - acho que natural de toda vida - de alegrias, decepções, amores, raiva, derrotas e conquistas.

Todos nós temos a capacidade de produzir os mais variados tipos de discos, onde estarão gravados momentos bons e ruins. Também está em nós a escolha de qual deles deixar tocar, qual a faixa apropriada pra viver cada momento; onde buscar motivação, reflexão; onde buscar “aquela história que me fez chegar até aqui”, ou resgatar os piores momentos de dor e desilusão pra saber se aprendeu algo diferente pra viver. Ou então reviver o momento de glória de ter conquistado uma vaga em uma universidade sensacional, ou de ter finalizado o seu trabalho de conclusão de curso, ou de ter perdido um ente querido, ou de ter perdido pra sempre a habilidade de jogar futebol e não poder mais ouvir seus amigos dizendo: “ele só faz aquilo, mas é f@#$ marcar ele!”, ou...

Quantos discos ou faixas sensacionais que temos para ouvir? O que seria um disco sensacional? Como posso cuidar dele sem arranhá-lo? O que fazer com os discos que arranharam?

Comecei a refletir sobre essa ideia de “discografia da vida” durante uma festa do casamento de um amigo, o Nino, em outubro deste ano.

O Nino foi o primeiro ser fora do normal que eu conheci ainda antes de começar o meu curso de graduação em Ilha Solteira. No dia da confirmação de matrícula tive a oportunidade forçada de conhecê-lo em um “restaurantezinho” da pacata Ilha Solteira. “Oportunidade forçada” porque não vejo como não trocar ideia com um ser que é muito semelhante ao burro falante do Shrek: não dá pra não conversar. Decidimos morar juntos a partir dali.

Montamos a República Atmaskavas, que depois, no começo das aulas, já contava com mais quatro integrantes: João, Calipo, Christian e Danilo. Éramos seis! E naquela época (2001) dividíamos um aluguel de R$ 340,00 em uma casa bem mais ou menos, com uns amigos ratos, que “trabalhavam” como seguranças da “Rep” (1).

Consegui seguir meu curso em Ilha Solteira por um ano, até que meu pai teve um problema de saúde, e eu não conseguia mais tocar minha vidinha distante da minha casa, dos meus pais. Havia a oportunidade de estudar mais próximo de casa, em Guaratinguetá. Consegui, depois de mais seis meses, minha transferência de curso e, com isso, um maior estado de paz pra alcançar a conclusão da minha graduação. Mas alguma coisa ficou em Ilha Solteira. Um disco sensacional foi gravado lá. Um amor por meus amigos.

Após ter ficado um ano e meio em Ilha Solteira, eu trouxe de lá um disco com faixas maravilhosas de momentos de felicidades, de angústias, de conquistas, de superação. Aprendi nos primeiros anos de faculdade a ser parceiro, porque eu tinha parceiros. Aprendi a respeitar os espaços do outro. Aprendi que amizade nos mantém imune a qualquer tipo de solidão. Aprendi que a distância não bloqueia amor algum. Aprendi o como é bom sentir saudade e ter tempo de acabar com ela, ainda que ela dure uma semana, um mês, três meses. Aprendi que sempre serei maior do que penso ser. Aprendi que a melhor forma de me sentir melhor é tentar ser melhor, ainda que eu não consiga ser mer@$ nenhuma. Aprendi o quanto é bom se dedicar a um desafio, a um “plantar mais difícil”, pra depois usufruir dele. Aprendi que posso respeitar o nome da minha família onde estiver, e que tenho que dar o máximo de mim para tentar ser lembrado por onde eu passar, nem que seja por um simples sorriso. Aprendi o quanto é sensacional valorizar as amizades verdadeiras e viver delas.

A ida ao casamento foi como se eu pudesse pegar um dos discos mais sensacionais da minha vida, e colocá-lo pra tocar. Sim, um disquinho em vinil, em um toca discos com uma agulhinha bem limpa. Em casa ficaram dois dos meus melhores amigos - meu pai e minha mãe - cuidando das nossas princesas (2).

Na cerimônia e na festa de um casamento sensacional, estávamos reunidos de novo. Estava lá, mais uma parte das pessoas que me fizeram ser melhor. Em nossa mesa, estava o meu amigo e fiel torcedor - meu irmão - que me mandava todo mês os cem ou duzentos pila (3) que faziam minha conta corrente ter algum sinal de “+” ou “C”; estavam os caras que compartilharam comigo muitos momentos de alegria, que foram os mesmos que se despediram de mim na rodoviária cantando “Eu só quero amar”, do Tim  Maia, me fazendo chorar pra cac&%$; estavam minha namorada e minha cunhada comendo doce pra caramba; estava a memória e a saudade do Calipo que foi muito mais cedo pro céu; estava a vontade de ter o Hondinha (4) conosco, que foi pro casamento do Jarrão (5) lá na Paraíba. Enfim, estava presente um sorriso coletivo de “cara%$# como é sensacional viver!”

Eu acho que nesses 30 anos de vida, eu aprendi a saber, a reconhecer nitidamente minha base. Esses momentos me levam a crer nisso. Mais do que saber onde estou, eu sei porquê estou. Alguém me fez chegar até aqui. Com certeza eu não estava e nem estou sozinho. Sou uma formação de pessoas, colocadas em minha vida, por uma Pessoa que me ama muito, pra me amarem, pra me ajudarem, pra torcerem por mim, pra chorarem junto também.

Sou só mais uma pessoa que recebeu do criador o desafio e a dádiva do movimento da vida, e com ela a possibilidade de vivenciar momentos horríveis e/ou sensacionais. Posso escolher o que viver, na maioria das vezes.

Sou só mais uma pessoa que não sabe explicar muito bem a sua origem, mas  que sabe o que fazer para o movimento da vida nunca cessar, até que Deus determine essa hora.

Enquanto viver, vou tentar sempre sacar da minha coleção algum disquinho sensacional e, simplesmente, começar a tocar!

Sempre!



(1) Abreviação de república - "casa" de estudantes.

(2) Manoela e Isabela, minhas duas sobrinhas sensacionais.

(3) Pila é a outra denominação dada a qualquer tipo de moeda. Seja real, dolar, euro etc.

(4) Hondinha, é o apelido do sr. Bruno Takeo, o japonês mais engraçado que conheço. Ele pertencia a outra Rep. mas não saia da Atmaskavas. Uma das pessoas mais sorridentes que conheço.

(5) Jarrão, é o cara mais desastrado que existe. Pra se ter uma noção, o "buro" marcou a data do casamento dele, no mesmo dia que o Nino. Só que o "casório" foi lá na Paraíba. Facilitou a escolha da galera, em qual dos dois casamentos comparecer.

2 comentários:

  1. Boa Noite meu querido afilhado.

    Gostei muito da sua "Discografia", como sempre surpreendendo e fazendo as pessoas se emocionarem e refletirem o qual a importancia de cada um para "DEUS".

    Não sei como curtir no próprio Blog, mas sempre curto o presente que "DEUS" e seus "PAIS" me deram ao me convidar para fazer parte da sua vida levando você a um dos principais mandamentos da lei de Deus que é o Batismo; Até fico feliz por saber perdoa-lo pelas suas visitas prometidas e não cumpridas, isso também com certeza é presente de Deus.

    Obrigado por você existir e fazer parte da minha vida, fico muito honrado de ser Padrinho de uma pessoa tão especial tanto para mim como também para Deus.

    Amo muito você e toda a sua familia.

    Seu Padrinho "Babão" (Junior)

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  2. Primo, você é uma pessoa que ama e é amado por todos! não tem como não se apaixonar por você! te amo!

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